Nossa vida já foi bem mais fácil. Basta olhar em volta: no ambiente dos negócios, enfrentamos o desafio das mudanças radicais e aceleradas, com robôs e sistemas de inteligência artificial transformando e até eliminando empregos. Na esfera social, os laços ficaram mais instáveis e superficiais – nada parece feito para durar. Nesta conjuntura, duplamente volátil, a insegurança se tornou parte estrutural da nossa vida. Como vamos agir, nós que fomos educados para gerenciar nossas carreiras de forma linear e progressiva?
Para traduzir este novo ambiente imprevisível das empresas e executivos, o futurólogo Bob Johansen tomou emprestado dos meios militares a sigla VUCA (em inglês, Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity). Diante da pressão por resultados, o mundo corporativo lança mão do que está a seu alcance para garantir volume de vendas, lucratividade e crescimento. Fusões, aquisições, investimento e desinvestimento, spin-offs, incubadoras, venda ou compra de marcas, expansão geográfica, joint-ventures – vale tentar de tudo, menos fingir que tudo continua como antes. Porque não continua: o mercado de trabalho está sendo redesenhado, e é claro que isto traz consequências para todos os envolvidos.
O sociólogo Zygmunt Bauman estava falando do mesmo fenômeno quando chamou nossa realidade pós-moderna de “mundo líquido”. Os vínculos estão menos leais e menos duradouros, como se escorressem entre os dedos. O ritmo frenético das mudanças lembra uma eterna corrida, sem linha de chegada. Diante dos novos arranjos e vínculos de trabalho (free-lancers, job sharing, nômades digitais, empregados bumerangues, jornadas parciais e temporárias), só nos resta escolher: ser levados pela corrente ou assumir o leme, no barco da mudança?
A boa notícia é que, como a “matéria líquida” da metáfora de Bauman, o talento também é capaz de contornar obstáculos e ocupar os espaços vazios (as oportunidades) que encontra. E isso, em termos individuais, significa ser capaz de se adaptar às novas circunstâncias. Mas, para funcionar, esse poder de adaptação precisa contar com sua prima-irmã, a versatilidade, que é a qualidade de fazer diferente. Juntas, as duas habilidades vão garantir ao profissional mais agilidade no aprendizado e um desempenho melhor em situações inéditas para ele.
Outra boa notícia, no “mundo novo” de Bauman: em estado líquido, um material possui mais energia do que no estado sólido – sem falar na liberdade de movimentos e na maleabilidade de sua forma. Mas como um profissional pode tirar proveito disso? Aumentando o gosto pelo risco e experimentando situações fora de seu domínio. Por isso, é bom estar disposto a participar de projetos multidisciplinares, atuar em empresas de diferentes segmentos, trabalhar com pessoas de outras nacionalidades, e sobretudo testar novas metodologias e ferramentas de trabalho. Aprenda a pedir feedback, escolha um mentor e, se precisar, contrate um coach. Assim, mesmo que a palavra carreira perca o significado atual, você estará acumulando o novo capital em alta no mercado profissional: um repertório valioso, feito das diversas experiências em que aplicará seus talentos.
Mas o novo sempre traz desconforto. Por isso, pense grande, mas comece pequeno, em ambientes de teste controlados. Depois vá aumentando aos poucos os graus de dificuldade e novidade. Afinal, se tudo muda e se liquefaz, uma coisa pode permanecer: sua determinação de vencer e se reinventar.