Não existem mais realidades. Só percepções. Principalmente quando se trata de produtos e marcas. Se você assistiu Matrix, e agora Matrix Reloaded, sabe do que estamos falando, pois se trata de um ícone de fácil entendimento quando se pretende explicar a nova realidade (ops!), a nova percepção complexa na qual todos nós vivemos. Mas se você ainda não teve a oportunidade de assistir e tem profundo interesse em marketing, vamos dizer assim, científico, "perceptivo", deveria.
Este filme é um daqueles eventos que se transformam em referência por muitos anos, e para muita gente. De qualquer maneira, ele versa sobre uma realidade virtual criada por quem domina o mundo, na qual as pessoas vivem sem conseguir distinguir o real do virtual.
Antigamente as coisas eram simples. Açúcar era União, sabonete era Palmolive e pasta de dentes era Kolinos ou Colgate. Carro era Ford ou Chevrolet, pomada era Minâncora, cerveja era Bohemia ou Caracu e hidratante era Leite de Rosas. Lápis de colorir era Faber Castel, máquina de escrever era Remington, chinelo era Alpargatas. E, óbvio, para ficar fortão, você tomava Biotônico Fontoura ou (ugh!). óleo de fígado de bacalhau...
Hoje, as coisas são diferentes. A multiplicidade de marcas não nos permite mais escolher os produtos pelas suas reais características. Há 100, 200 anos, você comprava muitos alimentos à granel e era natural provar o produto antes para verificar se era mesmo do seu agrado, ou não. Agora, tudo chega à nós envolto em imensas "camadas de comunicação", propaganda, embalagem, marca, boca-a-boca, promoções, merchandising, telemarketing, experiências anteriores, etc., o que impossibilita qualquer avaliação objetiva. Não conseguimos mais, na grande maioria dos casos, comparar produtos e tomar uma decisão racional de compra. Isto ocorre, antes de mais nada, por que existe uma absurda multiplicidade de marcas. Só para citar um exemplo, no Pão de Açúcar, os produtos de mercearia foram de 2,5 mil para 8 mil, em oito anos.
Lembro-me que há uns vinte anos atrás estava visitando meus sogros em Cincinatti, Ohio, EUA, e existiam cinco tipos diferentes de sal na mesa do jantar. No supermercado, a prateleira das cebolas tinha uns sete metros corridos de produtos diferentes. Nunca havia visto tantas cebolas com cores diferentes em minha vida. Aquilo parecia um arco íris. Quando fomos comprar umas rosquinhas "americano adora isso no café da manhã" em uma loja especializada no bairro, obviamente, encontramos roscas de todos os gostos que voc possa imaginar, e muitos que você jamais sonharia também.
Porém, o que realmente me marcou, a ponto de ter a pachorra de contar um por um, foram os suportes para colocar as tais roscas em pé para serem cortadas com a faca. Eram 38. Frescura