"Quem tem um por que, suporta qualquer como."
(Viktor Frankl)
Emmanuelle Garrido tem formação em Direito e ocupa cargo de chefia. Apesar de ser deficiente visual desde os seis meses de idade.
Monique Romano é Gerente Comercial e conseguiu superar uma grave crise financeira em sua empresa. Apesar da queda de 50% ocorrida nas vendas em determinado período.
Giselle Dellatorre trabalha para melhorar a qualidade de vida de crianças portadoras de doenças reumáticas. Apesar da falta de incentivo governamental.
Rodney Santos comemora, no dia em que escrevo este artigo, aniversário de cinco anos de sua maior vitória pessoal: a vitória pela vida, após superar um câncer. Apesar do pessimismo, de muitos, anos atrás.
Todos os nomes mencionados são de leitores, hoje amigos, com os quais me correspondo. Não são celebridades, não participam de reality shows, não receberam heranças ou facilidades. São pessoas diferentes porque decidiram enfrentar a mediocridade, o pessimismo, a negligência.
É comum nos abatermos diante das dificuldades. E superdimensioná-las. Nossos problemas são sempre mais relevantes do que os dos outros. Contratempos revestem-se de tragédias. Sentimo-nos incapazes, impotentes, injustiçados.
A frase que introduz este texto é do psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Frankl, criador da logoterapia, segundo a qual o desejo de encontrar um significado para a vida é a motivação básica do comportamento de um indivíduo. Estabelecer e perseguir um objetivo trilhando o próprio destino é aspecto mais relevante do que satisfazer instintos e aliviar tensões como sustenta a psicanálise convencional.
Frankl pertencia à corrente judaica socialista marxista, a classe de judeus mais odiada por Hitler. Passando por quatro campos de concentração entre 1942 e 1945, perdeu os pais, a esposa e um irmão, sofrendo com os maus tratos e a fome. Mas sobreviveu, por seus princípios e por seus propósitos.
Teorizando a partir de suas observações e sua própria experiência, Frankl observou que um indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida a partir de três vias:
a) criando um trabalho ou realizando um feito notável, ou ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus conhecimentos ou de sua ação;
b) experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal; este é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela;
c) pelo sofrimento, adotando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, se tem consciência de que a vida ainda espera muito de sua contribuição para com os demais.
Nestes três casos, a resposta do indivíduo deixa de ser a perda de tempo em conversas e meditação, e se torna a ação correta e a conduta moral objetiva.
Tenho visto empresas que produzem e geram empregos, apesar dos juros elevados, da carga tributária indecente, da indisponibilidade de linhas de crédito.
Tenho visto profissionais que são promovidos, apesar da ausência de um MBA ou da fluência em outro idioma.
Tenho visto pessoas que praticam ações sociais filantrópicas, levando consigo o carinho do olhar, o calor do abraço e o conforto da palavra, apesar de pessoalmente não necessitarem disso.
Tenho visto casais que se reconciliam e amantes que se saciam, apesar das divergências e da eventual discórdia.
Já falei antes sobre resiliência. E meu amigo Roberto Ambrósio presenteou-me com uma metáfora sobre o boxe, um esporte duro e violento que nos lega de forma muito especial o conceito de assimilação. Um boxeador toma um direto de direita e assimila, bem ou mal, o choque sofrido. Assimilar é tornar-se semelhante a. Como se o golpe passasse a ser uma parte da própria pessoa, modificando-a externa e internamente.
O boxeador sofre, baqueia, devolve a energia potencial em forma de persistência (permanecer em pé), ou em forma de contragolpes defensivos, mas acima de tudo aprende enquanto assimila. Aprende que a guarda deveria estar mais alta, que a esquiva deveria ocorrer um décimo de segundo antes. Aprende com a dor e aprende sozinho.
Também tenho aprendido a oferecer menos resistência aos sacrifícios impostos, a suportar melhor as dificuldades, a ser mais tolerante. E a encontrar um Sentido para a Vida. Apesar dos que a tudo isso se opõem.