“Como é fácil separar-se, como é difícil encontrar-se de novo!” (Song Fang-Hu)
A cada duas semanas o ritual se repete. Quando a sexta-feira se aproxima, minha rotina muda. Procuro arrumar a casa com mais cuidado, vou ao supermercado para pequenas compras supérfluas, consulto guias de programação infantil. Expectativa, alegria e até taquicardia. É dia de apanhar meus filhos para passarem o final de semana comigo.
A companhia das crianças é renovadora. Nada é comparável a ouvir o som macio de suas vozes pueris, a compartilhar seus sorrisos e gargalhadas espontâneas, a contemplá-los na tranquilidade do adormecer.
Os sábados são especiais. Despertamos juntos após uma noite de descanso em que três dividem um mesmo colchão – situação que não perdurará, pois as pernas deles crescem depressa... As refeições são feitas tardiamente. Jogamos de futebol a videogame. Eles discutem. E, em segundos, reconciliam-se. Dão trabalho para comer. Mas comem. Invariavelmente avançamos pela madrugada adentro. É um dia sem igual porque parece que não tem fim.
Porém, a chegada do domingo prenuncia o fim desta felicidade. As horas passam rápido. Quando percebemos, resta-nos espaço apenas para o banho, arrumar as malas e pegar a estrada. Eles partem deixando saudades e lembranças por todos os lados: brinquedos, peças de roupas e a presença no ar. A cama fica grande; o coração, pequeno.
Lembro-me da experiência vivida em despedidas de amor. Então adolescente, residindo em municípios diferentes, alternava com a namorada as viagens nos finais de semana. Aguardá-la na estação rodoviária era motivo de satisfação. Esta passagem lembra-me Saint-Exupéry e seu “Pequeno Príncipe”:
“Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.”
Na vida profissional passamos também por vivências diversas. Você muda de cargo, depois de departamento e, finalmente, de unidade. Ou então abre uma empresa, participa de outra, encerra uma atividade. A cada um destes processos, uma nova fase se inicia ante o término de outra. Ambientes que vêm e que vão. Pessoas que vão e que ficam.
Há partidas, separações e despedidas. Em algumas situações dizemos “até logo”, em outras um resoluto “tchau”. Mas apenas o “adeus” carrega consigo um bálsamo de dor. Porque é o único temperado com o aroma, doce ou amargo, do tempo.
A vida me tornou positivo e otimista. Aprendo por tentativa e acerto, e não por tentativa e erro. Vejo o copo meio cheio, e não meio vazio. Toda adversidade traz consigo lições e oportunidades. Mas ainda não aprendi a lidar adequadamente com a dor de certos tipos de separação, como o adeus de uma despedida quando a vontade é ficar. Leonardo da Vinci dizia: “Onde há muito sentimento, há muita dor”.
De todas as partidas, idas e vindas, encontros e desencontros, permeados pela razão ou pela emoção, pelo jogo do certo ou do errado, as maiores dores advêm dos momentos em que me distancio de mim mesmo, questionando meus propósitos, a trajetória em curso e os caminhos a trilhar. Mas os maiores prazeres também decorrem desta redescoberta, quase sempre simples, sutil e inesperada..